48h em Berlim

48h em Berlim

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Foram horas de muito aprendizado e reflexão, pois eu não esperava que esta viagem seria tão intensa. Ah, Berlin, a sua força causou um impacto sem precedência em meu ser. Quanta bravura encontrei em seus muros e portões abertos e caídos.

Especulei que seria mais uma aventura, porém ultrapassou qualquer expectativa que eu pudesse criar. Primeira impressão ao pisar em solo alemão foi de muita prosperidade e abundância. Pareceu-me que a escassez não tem vez neste lugar.

Quando o avião estava pousando, houve um momento de pressão dentro da aeronave, pois uma nuvem gigante estava a fim de brincar, enrijeceu-se e não permitiu que o piloto descesse com calmaria.

  • Ok, não estou preparada para morrer. - Pensei.

  • Mas quem disse que para voltar à casa precisa estar preparada? - A minha psicóloga perguntou-me um dia desses.

  • A vida é como andar de balão, para subir e voar, precisamos soltar os pesos. - Disse Susanne, naquele café ao lado da torre de Berlin.

Ela tinha razão. Ou melhor, elas têm razão. Ambas mulheres, a psicóloga e a minha amiga, possuem o dobro da minha idade, já viveram duas vezes mais o que estou vivendo, sabem bem o que é a vida.

Dentro da aeronave, todos estavam tensos a espera que o piloto, de fato, fosse bom no que propunha fazer e conseguisse brincar com aquela nuvem sem que o vento nos levasse ao chão. A asa, onde eu estava, fazia sinal de “Olá!” ao solo de Berlin.

  • Prefiro fechar os olhos para não ver. – Disse o brasileiro sentado ao meu lado.

  • Será que hoje é o dia de alguém aqui? – Perguntei. Ele sorriu.

Fechei os olhos: “Já está perto de pousar.” ... eu não podia ir sem me despedir, sem dizer adeus, sem um abraço ou um sorriso, na viagem que eu pulei de gozo ao comprar a passagem. Um destino tão distante, porém ao alcance de uma decisão.

Viajar parece ser um antídoto para o ato de desistir, pois demanda energia para sonhar acordado. Não há tempo para pensar bobagem, há muitas vivências a espera da bagagem.

Assim, decidi que daria o melhor de mim quando o piloto, finalmente, pousou as nossas vidas, histórias, projetos e anseios como uma pena que delicadamente cai, ao fim do tensionamento, com fortes aplausos de todos à bordo no avião.

Priscila Goes
Berlim, 01 de fevereiro de 2022.